“As pessoas com síndrome de Asperger, que as torna tão únicas, têm peculiar ‘interesse’ em áreas intelectuais específicas. Geralmente querem aprender tudo sobre o seu objeto de curiosidade. Têm, como foco de atenção, geografia, aspectos da história, mapas, clima, astronomia, marcas de carros, aviões ou horários de trens, sabendo minúcias sobre eles. Fazem cálculos matemáticos complexos de cabeça.
Aprendem a ler em idade muito precoce (hiperlexia). Demonstram tendência pela fala em monólogo, mostrando, por vezes, uma ligeira incoordenação motora, que isoladamente não é suficiente para o diagnóstico de Asperger.”
Por Sonia Caldas
A Síndrome de Asperger, reconhecida como um transtorno do espectro autista (TEA), foi descrita por Hans Asperger em 1944, quase simultaneamente à descrição do autismo clássico feita por Leo Kanner. Ambos usaram o termo “autista”, mas descreveram perfis clínicos diferentes. Enquanto Kanner retratou crianças com comprometimentos graves, Asperger apresentou casos com funções cognitivas e de linguagem preservadas, marcados por dificuldades sociais e comportamentos peculiares.
A Síndrome de Asperger é uma desordem do desenvolvimento caracterizada por:
Prejuízo na interação social;
Uso peculiar da linguagem para comunicação (sem atrasos significativos);
Comportamentos repetitivos e interesses restritos.
Diferente do autismo clássico, pessoas com Asperger apresentam QI normal ou elevado, linguagem desenvolvida e foco intenso em interesses específicos, como astronomia, trens, mapas ou matemática. Essas crianças geralmente aprendem a ler precocemente (hiperlexia), possuem excelente memória e podem falar de forma pedante ou em monólogo, com entonação peculiar.
Outro ponto importante é que, apesar das dificuldades sociais, pessoas com Asperger têm desejo de se conectar, mas não compreendem bem as regras sociais implícitas, o que pode levar à frustração e isolamento.
Falta de empatia;
Interpretação literal da linguagem;
Dificuldade com abstrações;
Vocabulário amplo;
Baixa tolerância à frustração;
Interesse obsessivo por temas específicos;
Incoordenação motora leve;
Diagnóstico geralmente feito por volta dos 5 ou 6 anos.
A frequência estimada da síndrome varia de 2 a 4 casos a cada 10.000 crianças, sendo mais comum em meninos.
O autismo clássico, descrito por Leo Kanner, apresenta características mais severas. Essas crianças costumam viver isoladas, com dificuldades profundas na socialização, ausência de linguagem funcional e resistência intensa à mudança de rotina.
Desinteresse pelo ambiente e pelas pessoas;
Falta de contato visual;
Manipulação de objetos inanimados;
Presença de estereotipias (como bater palmas ou balançar o corpo);
Hipersensibilidade sensorial (sons, luzes, cheiros);
Diagnóstico geralmente fechado antes dos 3 anos.
A prevalência do autismo clássico é de cerca de 1 em cada 150 pessoas, também predominando em meninos.
Apesar de estarem no espectro autista, as duas síndromes têm distinções relevantes:
Critério | Síndrome de Asperger | Autismo Clássico |
---|---|---|
Linguagem | Normal, mas com entonação incomum | Prejudicada ou ausente |
Habilidades sociais | Desejam se socializar, mas não sabem como | Isolamento social profundo |
Nível intelectual | Normal a superior | Frequentemente abaixo da média |
Interesse por interação | Existe, mas com dificuldades | Ausente |
Diagnóstico | Após os 5 anos | Até os 3 anos |
Comportamentos repetitivos | Sim | Sim, porém mais acentuados |
A confusão diagnóstica entre Asperger e outros transtornos como esquizofrenia ou transtornos de conduta é comum, especialmente na adolescência, quando surgem quadros de ansiedade, depressão e comportamentos obsessivos.
Segundo a abordagem psicanalítica, o autismo pode ser visto como uma defesa psíquica diante de um encontro traumático com o mundo exterior (Tustin, 1975). A psicoterapia, especialmente com base psicanalítica, é um desafio técnico e emocional para o terapeuta, pois envolve trabalhar com pacientes que podem parecer inacessíveis ou que não reconhecem o outro.
No caso da síndrome de Asperger, o foco terapêutico está em ajudar o paciente a:
Lidar com a ansiedade social;
Compreender as regras de convivência;
Diminuir o sentimento de inadequação;
Desenvolver habilidades emocionais e de comunicação;
Encontrar formas construtivas de viver seus interesses intensos.
Os adolescentes com Asperger muitas vezes têm consciência do próprio isolamento, e isso pode levar à tentativa de se adaptar socialmente, o que nem sempre é bem-sucedido, gerando quadros depressivos e de angústia.
Historicamente, muitos indivíduos com Asperger foram mal diagnosticados, internados em instituições psiquiátricas ou submetidos a tratamentos inadequados. A compreensão clínica e humanizada é fundamental para valorizar a riqueza interior dessas pessoas, apoiar seu desenvolvimento e promover sua inserção social.
É essencial que profissionais de saúde, educadores e familiares estejam atentos aos sinais da síndrome e busquem apoio especializado. A aceitação das singularidades e o respeito às diferenças são os primeiros passos para a construção de uma sociedade mais inclusiva.
Se você se interessa por temas como autismo, síndrome de Asperger e psicoterapia infantil, o livro “Autismo – Novas Reflexões” é leitura essencial. Nele, o autor aprofunda os aspectos emocionais e diagnósticos do espectro autista, com reflexões clínicas e exemplos reais que ajudam na compreensão do comportamento autista sob diferentes abordagens.
Adquira agora e amplie seu conhecimento sobre esse universo tão complexo quanto fascinante. Esse é um convite à empatia, ao conhecimento e ao respeito à diversidade humana.