Desinformação sobre Autismo no Brasil: Um Alerta Urgente

Autismo e desinformação

Um estudo conduzido pela FGV em parceria com a Autistas Brasil revelou um dado alarmante: o volume de conteúdo enganoso sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) em comunidades digitais da América Latina e Caribe cresceu mais de 15.000% entre 2019 e 2024. O Brasil aparece como líder continental nesse tipo de divulgação, concentrando cerca de 46% do total de publicações mapeadas. 

A pesquisa analisou mais de 60 milhões de mensagens no aplicativo Telegram, com a participação de aproximadamente 5 milhões de usuários em 19 países. Foram identificadas 150 falsas “causas” e 150 falsas “curas” para o autismo — narrativas infundadas que atribuem a condição a fatores como o consumo de salgadinhos industrializados, radiação 5G ou vacinas, e que promovem “tratamentos” que vão de substâncias tóxicas ao eletrochoque.
Os pesquisadores alertam que essas comunidades digitais funcionam como “seitas”, misturando linguagem pseudocientífica, espiritualidade e teorias da conspiração. Essa combinação não apenas propaga mentiras, mas fortalece preconceitos contra pessoas autistas, tratando o autismo como algo a ser combatido ou “curado”.

Por Que Isso Acontece e Qual o Perigo

A explosão desse tipo de conteúdo está associada a dois fatores principais. Primeiro, a pandemia da Covid-19 acelerou a desconfiança em instituições de saúde, abrindo espaço para narrativas conspiratórias. Entre 2020 e 2021, só no Brasil, houve um aumento de 635% nesse tipo de conteúdo sobre autismo. Segundo, plataformas abertas como o Telegram oferecem anonimato e pouca moderação, permitindo que mensagens falsas se espalhem rapidamente e atinjam públicos vulneráveis — especialmente famílias que buscam respostas sobre o autismo.
O perigo é real: além de alimentar estigmas, essas narrativas podem levar a tratamentos arriscados ou adiar a busca por apoio profissional real. Quando pessoas autistas ou seus familiares se deparam com falsas promessas de “cura”, isso retarda intervenções baseadas em evidências e pode agravar a exclusão social.

Impactos para Pessoas Autistas e Suas Famílias

Para uma pessoa no espectro ou sua família, as consequências da desinformação são múltiplas. Em primeiro lugar, existe o risco psicológico — sentir que algo está “errado” ou “instaurado mal” por causa de uma teoria conspiratória pode gerar culpa ou vergonha. Em segundo lugar, há o risco de saúde: adotar tratamentos não comprovados ou perigosos pode causar danos físicos ou atrasar apoio apropriado. Finalmente, a desinformação reforça estereótipos negativos, como a ideia de que o autismo é algo a ser “consertado” ou “erradicado”, em vez de uma forma legítima de diversidade humana.

O Que Podemos Fazer Para Combater Esse Cenário

Combater a desinformação exige ação em vários níveis. Famílias e pessoas autistas podem buscar informação confiável e científica — por exemplo, através de instituições de saúde pública, associações especializadas e profissionais de confiança. Educar sobre autismo significa promover a compreensão daquilo que a ciência realmente sabe: que o TEA não é causado por alimentos, tecnologia ou vacinas, mas é uma condição complexa e multifatorial.
As escolas, profissionais de saúde e entidades de apoio também têm papel fundamental. Ao promoverem ambientes de diálogo e esclarecimento, ajudam a derrubar mitos e dar voz a quem vive o autismo com autenticidade. Além disso, governos e plataformas de comunicação devem adotar políticas de moderação para impedir a propagação de conteúdos perigosos e favorecer o acesso a recursos confiáveis.

Por Que Esse Estudo É Relevante

Esse levantamento da FGV traz à luz uma realidade pouco debatida: a desinformação não afeta somente vacinas ou políticas públicas — chega com força às condições de saúde e neurodiversidade. E o Brasil liderar esse ranking continental mostra a urgência do tema em nosso país.
Para pais, educadores e pessoas autistas, esse estudo serve como alerta e convite à ação. A verdade é que a informação correta salva vidas, muda atitudes e promove inclusão. Quando aceitamos que o autismo não é algo a “ser curado”, mas a ser compreendido e apoiado, damos um passo importante rumo a uma sociedade mais justa e acolhedora.

Em resumo, o crescimento meteorico da desinformação sobre autismo exige atenção de todos nós. Cada mensagem verificada, cada conversa sincera e cada reconhecimento da diversidade cognitiva conta. O autismo merece respeito, compreensão e ação — não mentiras, negação ou preconceito.

 

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