A ciência tem avançado muito na compreensão do funcionamento do cérebro autista — um cérebro que, na maior parte do tempo, opera em estado de hiperalerta. Luzes intensas, ruídos inesperados, ambientes caóticos… tudo isso pode gerar sobrecarga sensorial e emocional. Mas pesquisas recentes mostram um caminho surpreendente e extremamente positivo: a música barroca pode ser um poderoso regulador do sistema nervoso no TEA.
Composta por nomes como Johann Sebastian Bach e Antonio Vivaldi, a música barroca segue padrões rítmicos que parecem conversar direto com a necessidade de previsibilidade do cérebro autista. E é exatamente desse ponto que nasce seu potencial terapêutico.
Músicas típicas do período barroco apresentam características únicas que influenciam positivamente a atenção, a calma e a regulação emocional. Entre os principais elementos estão:
Padrões previsíveis: o cérebro autista tende a se sentir mais seguro quando entende a lógica do que está ouvindo.
Repetições suaves: a repetição acalma, reduz a sensação de ameaça e ajuda a estabilizar o foco.
Ritmo compassado: batidas constantes ajudam a regular o corpo, a respiração e a atividade neural.
Esse conjunto cria um ambiente sonoro organizado — exatamente o oposto do caos sensorial que causa exaustão.
Ao identificar estímulos previsíveis, o cérebro reduz a ativação do “modo de alerta” e passa a operar em um estado mais relaxado, favorecendo:
redução da agitação;
melhora da atenção e da concentração;
maior estabilidade emocional;
sensação de conforto e segurança.
É como se a música barroca oferecesse um “mapa sonoro” claro, permitindo ao cérebro descansar da confusão cotidiana.
O uso de composições barrocas não substitui terapias, mas pode ser uma ferramenta complementar poderosa — e o melhor: simples de aplicar. Crianças, jovens e adultos com TEA podem se beneficiar ao incorporar esse tipo de música em atividades cotidianas, tais como:
momentos de estudo;
períodos de transição entre tarefas;
preparação para dormir;
recuperação após um episódio de sobrecarga sensorial;
ambientes que exigem foco prolongado.
Muitos profissionais relatam que o uso frequente dessas músicas favorece maior autorregulação, sobretudo quando associado a rotinas estruturadas.
Enquanto o mundo moderno oferece excesso de sons, luzes e demandas, a música barroca mostra que a resposta nem sempre é adicionar ainda mais estímulos, e sim oferecer o estímulo certo.
Para o cérebro autista, a previsibilidade pode ser uma forma de acolhimento. E, quando bem utilizada, a música se torna uma linguagem que ultrapassa palavras e alcança diretamente o sistema nervoso.
É inspirador perceber que algo tão acessível e universal quanto a música pode abrir portas para mais bem-estar, serenidade e autonomia. Ao oferecer um ambiente sonoro organizado, estamos oferecendo mais do que calma — estamos oferecendo qualidade de vida.
A música barroca não é mágica, mas é uma estratégia eficaz baseada em ciência e observação prática. Ela demonstra que pequenas escolhas podem transformar o dia a dia de pessoas autistas, ajudando a equilibrar emoções, diminuir a ansiedade e aumentar a clareza mental.
E quanto mais entendemos sobre o funcionamento do cérebro autista, mais percebemos que a chave não está em forçar adaptação ao caos, mas em criar ambientes que respeitem a forma singular como cada pessoa percebe o mundo.
A música barroca, nesse sentido, não é apenas som — é cuidado, ciência e inclusão.
Fontes e leituras recomendadas: