O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento que intriga pesquisadores há décadas. À medida que a ciência avança, novas descobertas ajudam a compreender melhor como o autismo se forma e por que aparece em algumas famílias e em outras não. Uma das informações mais importantes — e que muitas vezes gera dúvidas — é a distinção entre o que é genético e o que é hereditário. Embora os dois conceitos estejam relacionados, eles representam processos diferentes dentro da biologia humana.
Compreender essa diferença traz clareza, combate estigmas e reforça uma mensagem essencial: o autismo não é culpa de ninguém, pois decorre de mecanismos naturais da genética e da formação do cérebro.
Quando afirmamos que o autismo é “genético”, estamos dizendo que ele tem origem em alterações nos genes, o código que orienta o desenvolvimento do cérebro e do corpo. Porém, essa informação não significa que essas alterações sempre vêm dos pais.
Mutações podem ocorrer de forma espontânea durante o desenvolvimento embrionário — um processo natural que acontece com qualquer ser vivo. Estudos mostram que entre 18% e 20% dos casos de autismo surgem justamente assim: por mutações não herdadas, que aparecem pela primeira vez na criança.
Essas mutações espontâneas são chamadas de de novo e fazem parte da diversidade genética humana. Portanto, famílias sem qualquer histórico de autismo podem ter um filho autista sem que isso esteja ligado a decisões, comportamentos ou fatores ambientais diretos dos pais.
A maioria dos casos de autismo, no entanto, possui um componente hereditário. Isso significa que a predisposição genética foi transmitida dos pais para os filhos. Pesquisas apontam que cerca de 81% dos casos de TEA têm origem hereditária.
Essa hereditariedade, porém, não funciona como uma regra fixa. Não é porque um pai ou mãe tem traços autistas que um filho necessariamente terá TEA — e o contrário também é verdadeiro. O que se transmite é a predisposição, e não o diagnóstico em si.
Em famílias onde essa predisposição genética existe, pode haver maior probabilidade de surgirem crianças autistas. Ainda assim, cada pessoa combina uma série de fatores genéticos únicos, o que explica por que irmãos podem ter apresentações muito diferentes dentro ou fora do espectro.
Quando entendemos que o autismo é uma combinação de fatores genéticos — herdados ou espontâneos —, abre-se um caminho para uma visão mais acolhedora e informada sobre o TEA. Isso reforça que:
não existe culpa ou falha familiar;
o autismo faz parte da diversidade humana;
a ciência está cada vez mais próxima de compreender seus mecanismos;
o diagnóstico é uma ferramenta de apoio, não de limitação;
cada indivíduo autista possui potencial único, independentemente de sua origem genética.
Essa clareza permite que famílias encontrem mais segurança emocional e que a sociedade caminhe em direção a uma compreensão mais inclusiva e livre de preconceitos.
Mais importante do que entender de onde vem o autismo é compreender o que podemos fazer para apoiar o desenvolvimento de quem está no espectro.
A genética define predisposições, mas não define destinos. Intervenções adequadas, ambientes estruturados, respeito às necessidades sensoriais e inclusão social fazem enorme diferença ao longo da vida de crianças, jovens e adultos autistas.
E esse é o ponto mais inspirador: mesmo com origens complexas e multifatoriais, o autismo não impede crescimento, aprendizagem ou realização. Pelo contrário — quando há compreensão e acolhimento, pessoas autistas florescem, revelam talentos extraordinários e contribuem para o mundo de maneiras profundas.
Fontes e leituras recomendadas:
https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/
https://www.frontiersin.org/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/
https://www.scielo.br/