Educar uma criança autista é um ato de amor, paciência e compreensão. Cada criança no espectro do autismo tem seu próprio ritmo, forma de aprender e de se comunicar. Por isso, é essencial que pais, professores e cuidadores saibam o que não fazer durante o processo educativo. Evitar certos comportamentos é o primeiro passo para garantir o desenvolvimento saudável, a autoestima e o bem-estar emocional dessas crianças. A seguir, veja cinco atitudes que nunca devem ser praticadas com uma criança autista.
1. Nunca tente forçar o contato visual ou a interação:
Um dos erros mais comuns é insistir para que a criança autista olhe nos olhos ou interaja da mesma forma que as demais. Para muitas delas, o contato visual pode ser desconfortável ou até doloroso, devido à hipersensibilidade sensorial. Forçar esse comportamento pode gerar ansiedade e afastamento. Em vez disso, respeite o espaço e o tempo da criança. A comunicação pode acontecer de outras formas — por gestos, desenhos, palavras ou até pequenos sinais que demonstram confiança. O importante é construir uma conexão verdadeira, e não impor um padrão.
2. Não ignore as crises sensoriais ou comportamentais:
As chamadas crises autistas (ou meltdowns) não são birras, e sim reações a estímulos intensos demais para o sistema sensorial da criança. Barulhos altos, luzes fortes, toques inesperados ou mudanças bruscas de rotina podem desencadear essas reações. Gritar, punir ou tentar “controlar” a crise só agrava a situação. O ideal é oferecer um ambiente calmo, seguro e previsível. Retirar a criança do local, reduzir estímulos e falar em tom tranquilo ajuda a diminuir o desconforto. Entender as causas da crise é fundamental para preveni-la no futuro.
3. Jamais compare a criança autista com outras crianças:
Comparações são extremamente prejudiciais. Dizer frases como “seu irmão faz melhor” ou “as outras crianças já conseguem” pode causar frustração, culpa e desmotivação. Cada criança autista tem seu próprio ritmo de aprendizado e seu conjunto de habilidades únicas. Algumas se destacam em áreas como música, memorização ou raciocínio lógico; outras têm maior sensibilidade artística ou empatia emocional. Valorize as conquistas individuais e celebre cada avanço, por menor que pareça. Isso fortalece a autoconfiança e o prazer em aprender.
4. Não tente “corrigir” o jeito autista de ser:
Muitas vezes, adultos bem-intencionados tentam “normalizar” a criança, forçando-a a se comportar como as demais. Isso inclui proibir movimentos repetitivos (como balançar as mãos), esconder interesses intensos ou silenciar a maneira peculiar de falar. Porém, essas características fazem parte da identidade da criança. Em vez de tentar eliminar o comportamento, é melhor compreender sua função. Movimentos repetitivos, por exemplo, ajudam a aliviar o estresse e manter o equilíbrio emocional. O foco da educação deve ser o desenvolvimento das potencialidades, e não a tentativa de apagar a individualidade.
5. Nunca negligencie o diálogo e a escuta:
Mesmo que a criança autista tenha dificuldades de comunicação verbal, ela sente, entende e se expressa — cada uma à sua maneira. Escutar significa observar gestos, expressões e reações. O diálogo é uma via de mão dupla que requer paciência e empatia. Quando a criança sente que é ouvida, ela se torna mais aberta ao aprendizado e ao convívio social. A escuta ativa é um dos pilares da educação inclusiva e afetuosa.
Educar uma criança autista exige mais sensibilidade do que regras. É preciso substituir imposição por compreensão, comparações por incentivo e silêncio por escuta. O ambiente escolar e familiar deve ser um espaço de acolhimento, onde a criança se sinta respeitada e valorizada por quem ela é.
Além disso, o papel da escola é essencial nesse processo. Professores e equipes pedagógicas precisam receber formação continuada sobre autismo, para compreender melhor o comportamento, a comunicação e as necessidades sensoriais dos alunos autistas. Um ambiente preparado e empático não só melhora o aprendizado, mas também fortalece o vínculo entre educadores e alunos.
A sociedade está aprendendo que o autismo não é uma barreira, mas uma forma diferente de ver e interagir com o mundo. Quando os adultos respeitam essa diferença, a criança autista floresce — mostrando talentos, criatividade e inteligência de maneiras únicas. Educar com amor é permitir que ela se desenvolva sem medo, sem vergonha e com a certeza de que é aceita exatamente como é.
Em resumo, o segredo não está em mudar a criança, mas em mudar a forma de educar. Respeitar seus limites, compreender suas emoções e valorizar suas conquistas são atitudes que transformam não apenas a vida do autista, mas também a de todos ao seu redor.