Como Autistas Podem Vencer na Vida: A História Inspiradora de Amom Mandel

Deputado Federal Amom Mandel

Deputado Federal Amom Mandel

Durante muito tempo, o autismo foi tratado apenas como uma condição clínica, marcada por estigmas, exclusões e silêncios. Mas nos últimos anos, o Brasil tem vivido um movimento crescente de visibilidade e empoderamento autista. Um dos marcos mais emblemáticos dessa nova fase é a história de Amom Mandel, deputado federal pelo Amazonas, que se tornou o primeiro parlamentar brasileiro a tornar público seu diagnóstico de autismo e a registrar essa condição formalmente em seu documento de identidade.

O gesto de Amom é mais do que simbólico. Ele rompe barreiras culturais, dá voz a milhões de brasileiros no espectro e mostra, com seu próprio exemplo, que autistas podem vencer na vida, ocupar espaços de liderança e provocar transformações profundas na sociedade. Esse é um passo crucial para quebrar preconceitos e ampliar a representatividade política das pessoas autistas.

Assumir publicamente o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), especialmente em um ambiente como o Congresso Nacional, exige coragem. Ao tomar essa decisão, Amom transformou o que muitos viam como uma “fragilidade” em força política. Ele assumiu a sua condição como parte essencial da própria identidade, não como algo a ser escondido, mas como uma característica que também molda sua forma de pensar, trabalhar e se relacionar com o mundo.

O deputado, que recebeu o diagnóstico aos 14 anos, revelou que sofria preconceito e ataques por suas características e comportamentos. Foi justamente esse cenário que o motivou a tornar sua condição pública. Ao fazer isso, ele não apenas humanizou o autismo diante da opinião pública, como também reforçou que é possível ter uma trajetória de sucesso sem abrir mão da autenticidade.

Sua atuação no Congresso também reflete esse compromisso com a inclusão. Amom é membro ativo da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência e tem levantado pautas urgentes, como a criação de uma Carteira Nacional de Identificação da Pessoa com Deficiência (CNIPCD). A proposta visa facilitar o acesso a direitos por meio de um documento unificado, com validade em todo o território nacional — uma demanda especialmente relevante para pessoas autistas, que enfrentam barreiras burocráticas diárias.

Além disso, o deputado defende a criação de um Código Brasileiro da Pessoa com Deficiência, que reuniria e organizaria as leis já existentes, facilitando sua aplicação e fiscalização. Essas iniciativas mostram que vencer como autista vai muito além da conquista individual: é também sobre abrir caminhos para que outras pessoas do espectro tenham uma vida mais justa, acessível e digna.

A história de Amom Mandel também nos convida a repensar o que significa sucesso para uma pessoa autista. A vitória não está apenas em ocupar um cargo político ou ser reconhecido publicamente. Ela pode estar em cada conquista diária: terminar os estudos, conseguir um emprego, formar vínculos verdadeiros, viver com autonomia. O importante é que cada pessoa tenha o direito de se desenvolver respeitando seu próprio ritmo, seu modo de ser e suas particularidades.

Amom deixa claro que o autoconhecimento foi essencial em sua jornada. Entender o que significa ser autista o ajudou a compreender melhor suas emoções, suas dificuldades e também suas habilidades. Essa consciência de si é fundamental para que qualquer pessoa — neurotípica ou neurodivergente — possa construir uma vida com propósito e equilíbrio.

Outro aspecto central de sua história é a rede de apoio. Apesar das adversidades, Amom contou com suporte familiar e institucional em diversos momentos. Isso reforça a importância de políticas públicas que garantam apoio multidisciplinar para autistas, especialmente na infância e adolescência. Psicólogos, terapeutas ocupacionais, educadores especializados e famílias preparadas são peças-chave para a construção de trajetórias bem-sucedidas.

A visibilidade conquistada por Amom também inspira outros jovens autistas a se reconhecerem e se aceitarem. Quando uma criança autista vê alguém como ela ocupando um espaço de destaque, isso gera identificação, autoestima e esperança. Representatividade importa — e muito. Afinal, como acreditar que é possível vencer, se você nunca viu ninguém como você ocupando posições de destaque?

Vale lembrar que a trajetória de Amom não é isolada. Cada vez mais, pessoas autistas têm se destacado em áreas como ciência, arte, tecnologia, educação e empreendedorismo. São exemplos que mostram, na prática, que o autismo não é um impedimento para o sucesso, mas uma forma única de estar no mundo. E é justamente essa singularidade que pode gerar soluções criativas, abordagens inovadoras e olhares sensíveis — características cada vez mais valorizadas em um mundo diverso e em constante transformação.

É fundamental, porém, que a sociedade esteja preparada para acolher essa diversidade. Isso significa combater o preconceito, investir em educação inclusiva, promover acessibilidade e reconhecer que as diferenças não são obstáculos, mas potências. Amom mostrou que um autista pode ser líder político. Outros mostram que podem ser médicos, professores, empresários, artistas ou o que quiserem ser. Para isso, precisam de oportunidades reais — e não de barreiras invisíveis.

Quando falamos em “vencer na vida”, é importante não cair na armadilha da meritocracia cega. Pessoas autistas enfrentam desafios específicos — sensoriais, sociais, comunicacionais — que muitas vezes passam despercebidos. Vencer, nesse contexto, é também saber pedir ajuda, encontrar ambientes que respeitem seus limites, e ter liberdade para ser quem se é. A vitória está na construção de uma vida que faça sentido, mesmo que fora dos padrões esperados pela maioria.

A história de Amom Mandel é uma poderosa lembrança de que autistas podem, sim, ocupar qualquer lugar — inclusive os mais altos. Sua coragem em tornar pública sua condição, seu compromisso com a inclusão e sua atuação política são provas de que é possível transformar o diagnóstico em força e protagonismo.

O Brasil precisa de mais histórias como a de Amom. Precisa, sobretudo, garantir que todas as pessoas autistas — independentemente de sua classe social, cor, local de nascimento ou nível de suporte — tenham acesso a uma vida plena. Isso exige políticas públicas, empatia e uma mudança cultural profunda.

Mais do que um gesto individual, registrar o autismo na identidade é um ato coletivo de afirmação. É dizer para o mundo: “Estamos aqui, somos muitos, temos voz e queremos participar.” É um convite à convivência respeitosa, à escuta ativa e à construção de um país mais inclusivo.

E se você convive com o autismo, como familiar, profissional ou pessoa no espectro, saiba: vencer é possível. Às vezes, a maior vitória está em reconhecer seu próprio valor, buscar seus sonhos e acreditar que sua existência, com todas as suas particularidades, tem um papel importante no mundo. Assim como Amom, cada autista tem o direito — e o potencial — de escrever sua própria história de superação, impacto e realização.

Veja o deputado em ação:

 

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