Donald Triplett: O “Caso 1” do Autismo e Sua Vida Inspiradora

Donald Triplett

Donald Gray Triplett, nascido em 8 de setembro de 1933 e falecido em 15 de junho de 2023, foi a primeira pessoa no mundo a receber formalmente o diagnóstico de autismo. Conhecido como “Caso 1” nos registros médicos do pioneiro psiquiatra infantil Leo Kanner, Triplett viveu uma trajetória marcada por desafios, superação e profundo impacto na compreensão sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Sua vida revela não apenas a origem clínica do diagnóstico de autismo, mas também uma narrativa humana de pertencimento, resiliência e esperança. Para compreender melhor sua história, acesse a reportagem completa do jornal O Globo sobre sua vida (link para a reportagem)

Don Triplett cresceu em Forest, Mississippi, filho de Beamon e Mary Triplett, uma família economicamente confortável. Desde muito jovem, demonstrou comportamentos que hoje seriam reconhecidos como indicativos de autismo: retração social, foco intenso em padrões numéricos e musicais, e dificuldade de linguagem típica. Com apenas dois anos, já recitava o Salmo 23 com precisão e memorizava perguntas e respostas catequéticas. Também cantava melodias ouvidas apenas uma vez, com entonação perfeita. Em 1937, aos três anos, foi colocado em uma instituição infantil, mas seus pais, profundamente atentos ao seu pesar, o retiraram um ano depois e buscaram atendimento com Leo Kanner na Johns Hopkins, em Baltimore.

O diagnóstico veio formalmente com a publicação de “Autistic Disturbances of Affective Contact” (1943), de Kanner, que descrevia Donald como “Donald T.”, o primeiro caso de uma série de onze crianças com características semelhantes. Apesar da natureza pioneira desse diagnóstico, seus pais resistiram à estigmatização e mantiveram Donald em casa, cultivando um ambiente de afeto, aceitação e estímulo às suas singularidades.

Donald frequentou a escola secundária em sua cidade natal, sendo acolhido por professores e colegas que o trataram com normalidade e respeito. Em 1958, formou-se em francês pelo Millsaps College e retornou a Forest, onde, por impressionantes 65 anos, trabalhou num banco local que pertencia à família. Suas paixões incluíam jogar golfe diariamente, viajar e administrar sua vida com independência. Ele aprendeu a dirigir apenas na maturidade e manteve um estilo de vida discreto, mas repleto de significado.

Um ponto marcante em sua vida foi como sua comunidade o abraçou como um cidadão querido e respeitado. Mesmo antes de sua história se tornar pública, a cidade de Forest o via como um de seus, alguém com quem se convivia com naturalidade. Quando sua condição passou a ser conhecida mundialmente, esse carinho se manteve, transformando seu destino em símbolo de inclusão social bem-sucedida. Isso foi tema do artigo “Autism’s First Child”, na revista The Atlantic, de John Donvan e Caren Zucker, que também resultou no livro In a Different Key (2016) — finalista do Pulitzer — e em um documentário exibido pela PBS.

Donald Triplett faleceu aos 89 anos, em 15 de junho de 2023, em sua casa em Forest, vítima de câncer. Seu falecimento reverberou globalmente, trazendo à tona sua história como marco fundamental na história do autismo. O banco onde trabalhou emitiu nota emocionada, destacando sua presença constante ao longo de seis décadas e o papel que desempenhava como figura querida na comunidade.

A relevância de Donald vai além de ser o primeiro diagnosticado: sua trajetória humana amplifica a discussão sobre o autismo em adultos e envelhecentes. Especialistas ressaltam que seu acolhimento local fez toda a diferença e deveria inspirar políticas que ampliem a qualidade de vida em todas as fases da vida de pessoas autistas.

Do ponto de vista histórico, científico e emocional, Donald Triplett traduz o impacto positivo que a aceitação, a compreensão e o vínculo comunitário podem ter. Ele não foi definido por um rótulo clínico, mas por sua singularidade, seus talentos e sua vida plena. Sua mãe frequentemente lembrava que seu filho não era apenas um paciente: era um ser complexo, com interesses musicais, memorização excepcional e uma presença afetiva profunda entre aqueles que o conheciam.

Por que sua história importa:

  1. Marco histórico – Donald foi o “Caso 1” do autismo, fundamental para consolidar o diagnóstico como condição distinta.

  2. Vida com autonomia – Formado, empregado, viajante e atuante socialmente, viveu de forma independente.

  3. Inclusão comunitária exemplar – Forest o envolveu como cidadão querido, mostrando o poder do pertencimento.

  4. Inspiração global – Sua história disseminada por mídia e literatura inspira famílias, profissionais e a sociedade na visão sobre autismo.

  5. Avanço no olhar do autismo adulto – Sua longevidade abre a discussão sobre o envelhecimento e qualidade de vida de autistas.

Donald Triplett viveu uma vida singular e extraordinária — alguém para quem o diagnóstico foi apenas um começo, não um limite. Ele nos ensina que o autismo pode coexistir com talentos, autonomia e profundos vínculos afetivos. Sua história é um convite à reflexão: como sociedade, precisamos criar condições para que outras “Donald T.” possam viver com dignidade, pertencimento e realização pessoal.

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