Muitas milhas de distância e poucos anos de diferença separaram dois famosos psiquiatras, Hans Asperger e Leo Kanner.
Ambos descreveram quadros clínicos autísticos que apresentavam semelhanças sem, no entanto, serem a mesma coisa. Enquanto o nome de Leo Kanner (1943) ficou associado a uma das primeiras descrições do autismo clássico, o de Hans Asperger (1944) se notabilizou pela descrição de problemas em crianças cujo diagnóstico posteriormente levaria o seu nome, a síndrome de Asperger, sendo certo que a publicação de suas pesquisas foi realizada na língua alemã, fato responsável por torná-lo desconhecido por muito anos.

O interessante a ser observado é que Asperger utilizou o termo “autista” em sua tese de doutorado na Áustria na mesma época em que Leo Kanner publicava nos Estados Unidos uma descrição com respeito às crianças que ele também denominou autistas. Ambos descreveram uma configuração de sintomas semelhantes e utilizaram o mesmo termo “autista” para designá-la, não esquecido de que o tempo aqui referido remonta à metade do século XX, quando não havia os hoje existentes canais de comunicação, algo dificultado ainda mais pela ocorrência da Segunda Guerra Mundial.
Enquanto Leo Kanner (1997) retratou crianças com problemas mais graves, Hans Asperger as descreveu com comprometimentos mais leves, levando a síndrome de Asperger a ser considerada por alguns estudiosos como subgrupo da síndrome autística, possuindo seus próprios critérios diagnósticos.
Síndrome de Asperger: o que é?
A síndrome de Asperger, também chamada desordem de Asperger, é uma categoria relativamente nova de desordem do desenvolvimento. Hans Asperger (1944) descreveu uma síndrome que posteriormente passou a ser chamada pelo seu nome, reconhecendo as dificuldades que as crianças apresentavam, as quais, com o passar do tempo, não desapareciam, permanecendo inalterados nos seus aspectos essências.
Hans Asperger, na sua tese de doutorado publicada em 1914, descreveu meninos que apresentavam dificuldades de relacionamento social, dificuldades na linguagem e com elaboração de pensamentos incomuns. Ele utilizou o termo “psicopatia autista” para descrever o que considerou uma forma de problemas de personalidade.
A descrição de Hans Asperger foi infelizmente ignorada nos Estados Unidos e na Europa por cerca de 30 anos, tendo ele morrido em 1980, alguns anos antes que a síndrome que leva o seu nome fosse reconhecida internacionalmente. O uso do termo passou a ser utilizado nos últimos 15 anos por Lorna Wing (1976).
Até a década de 1990, a opinião dominante foi que a síndrome de Asperger seria uma variante do autismo clássico, representando categoria relativamente nova de desordem do desenvolvimento, de etiologia diversa, em que possam ser encontradas alterações em três áreas do desenvolvimento:
· Relacionamento social;
· Uso da linguagem para comunicação;
· Comportamentos repetitivos.
Na literatura atual não é totalmente claro se a síndrome de Asperger é somente uma forma atenuada de autismo clássico ou se as únicas semelhanças são certos sintomas clínicos. No meu entender se trata de duas entidades diagnósticas de etiologias diferentes.
No que diz respeito ao aspecto intelectual na síndrome de Asperger, ela se caracteriza por elevadas habilidades cognitivas com QI normal indo até as faixas mais altas, por funções de linguagens normais se comparadas a outras desordens do autismo clássico.
Apresenta prejuízo na interação social, caracterizado pelo pequeno atraso clinicamente significativo na linguagem falada, no desenvolvimento cognitivo, no autocuidado e na curiosidade com relação ao meio ambiente.
As pessoas com síndrome de Asperger, que as torna tão únicas, têm peculiar “interesse” em áreas intelectuais específicas. Geralmente querem aprender tudo sobre o seu objeto de curiosidade. Têm, como foco de atenção, geografia, aspectos da história, mapas, clima, astronomia, marcas de carros, aviões ou horários de trens, sabendo minúcias sobres eles. Fazem cálculos matemáticos complexos de cabeça.
Aprendem a ler em idade muito precoce (hiperlexia). Demonstram tendência pela fala em monólogo, mostrando, por vezes, uma ligeira incoordenação motora, que isoladamente não é suficiente para o diagnóstico de Asperger.
Essas áreas de interesses especiais podem persistir até a fase adulta e, em muitos casos, tornarem-se a base da carreira adulta.
No que diz respeito à época na qual o diagnóstico é levantado ele ocorre por volta dos cinco ou seis anos (Schwartzman, 1992) e muitas vezes com suspeita de superdotação ou genialidade……
Trabalho apresentado no CPRJ no Encontro Téorico e Clinico de Crianças e Adolescentes – outubro de 2014